domingo, 10 de agosto de 2008

A vida fora de Luanda: Tranquilidade e descanso em Cabo Ledo

Este fim-de-semana quisemos cortar com a vida de cidade e conhecer algumas das paisagens naturais que Angola tem para nos oferecer. Decidimos ir até Cabo Ledo sobre o qual já me tinham elogiado a praia e as ondas.
Cabo Ledo fica a cerca de 120 km a sul de Luanda e a viagem só por si já vale a pena.
Após passarmos o congestionamento dos arredores de Luanda entramos numa paisagem tipicamente africana dominada por terra vermelha e árvores estranhas que não estamos habituados a ver e das quais nem sequer sei o nome, intercaladas por algumas palhotas dos locais da região.
Fomos percorrendo a estrada quase sempre acompanhados pela vista de mar e praia ao longe, dando a sensação que é quase possível fazer Angola de norte a sul a caminhar pela praia. Pelo caminho cruzamos alguns pontos de interesse que já nos tinham falado, o Miradouro da Lua, conhecido pelas formações rochosas que se assemelham à superfície lunar, a Barra do Kwanza, foz do famoso rio que dá nome à moeda do país e finalmente Cabo Ledo!
A praia de Cabo Ledo é uma extensa praia com vários quilómetros fechada a sul pelo próprio Cabo Ledo junto ao qual se forma uma onda que é talvez a mais famosa de Angola para o surf.
A entrada da praia é ocupada pelas palhotas dos pescadores que estes utilizam para montar as redes de pesca ou secar o peixe que vão depois vender a Luanda. Para os visitantes que queiram passar a noite, como nós, existem já uns bungalows rudimentares em cima da praia onde se pode comer uma grande jantarada de gambas e lagosta e nos fazer sentir algures nas Caraíbas.
Na praia vêem-se pescadores nos barcos e as respectivas mulheres a tratar do peixe com as crianças à volta. Muitas crianças felizes a brincar que ficam num completo delírio quando nos pomos a jogar à bola com eles. No meio destes locais acabamos por fazer amizade com dois rapazes de 12 anos, o Paizinho, bom jogador de futebol e o Bem Falado, que como o nome indica gosta de falar e demonstra uma conversa fora do vulgar para um Angolano daquela idade. Se continuar assim talvez consiga alcançar o seu sonho de ir para Portugal para ser engenheiro e construir muitas pontes.
Como tantos outros, estes rapazes estão neste momento de férias porque o Estado decretou o fecho de todas as escolas por um período de 45 dias que antecede as eleições e passam os dias a passear pela praia sem nada para comer porque a mãe foi para Luanda trabalhar e só volta na segunda com comida. Disseram-me que a única coisa que comeram durante todo o fim-de-semana foi mesmo uma sandes e umas maçãs que nós trazíamos connosco.
Acabamos por ir conhecer a casa dos dois novos amigos, uma palhota na zona das casas dos pescadores, onde para além de vermos de perto todo o movimento da aldeia conhecemos também a realidade do interior destas palhotas onde as camas são uns panos no chão e é possível ver ratos a passar. Apesar da pobreza ficamos surpreendidos com a simpatia destes 2 rapazes de apenas 12 anos ao trazerem cadeiras para a porta de casa para nos receber e se despedem de nós a dizer: “Se precisarem de alguma coisa já sabem onde fica a nossa casa”. À noite, depois de jantar e antes de dormir ainda houve tempo para um último passeio pela praia e gozar da tranquilidade que o mar, a noite e as estrelas nos oferecem.
A manhã de domingo trouxe o melhor acordar desde que cheguei a Angola, o barulho do mar e um banho de água salgada logo antes do pequeno-almoço fazem milagres pela boa disposição. Nesse dia decidimos caminhar os cerca de 3 quilómetros de extenso areal até à zona do Cabo onde nos tinham dito que havia ondas para o surf.
Nesta zona da praia estão uns quantos grupos de pessoas, na sua maioria brancos que se encontram também a trabalhar em Luanda, que aproveitam para se refugiar ali da confusão da cidade e curtir um dia de surf.
Eu e o Ricardo acabamos por pedir duas pranchas emprestadas a um grupo de franceses e fomos também nós aproveitar um bocado daquela onda. Confirma-se que a onde tem mesmo potencial. Uma esquerda lenta e fácil mas muito comprida que pode durar mais de 30 segundos. Concluímos que na nossa próxima vinda a Angola a prancha vai ser um elemento essencial da bagagem.
O dia foi passando e é tempo de regressar a Luanda.
Enquanto regressamos penso na pena que será se daqui a 10 anos voltarmos a este sítio e em vez das palhotas de pescadores encontremos grandes cadeias de resort a dominar a praia…

4 comentários:

Unknown disse...

Parece que perdi um grande fim de semana. Voltamos lá em Setembro! :)

Grande abraço e bom regresso à civilização.
Nuno Carvalho.

Unknown disse...

ola. Gostei BJs

Raquel e Bruno disse...

Muito bom!

Aquele macaquinho queria brincadeira... não lhe explicaste que não gostas muito de contacto fisíco com os animais?! lol!

Jokas

GRAINOFSAND disse...

Bem, depois de uma visita tão bem guiada estou rendida...não é fácil resistir... acho que a minha viagem à terra natal está para muito mais breve do que imaginava!;)

p.s. Parabéns pelo fantástico blogue!